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ENTREVISTA - Rubens Approbato Machado

ENTREVISTA - Rubens Approbato Machado

A missão da OAB ocupa o espaço central do edifício da cidadania, empreendimento feito com os tijolos da percepção social, da crítica pública aos governantes, da defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos e da coragem de trilhar novos caminhos. Essa foi a argamassa que o motivou a fazer a veemente peroração, por ocasião da posse do ministro Marco Aurélio Mello na presidência do Supremo Tribunal Federal, na presença do presidente da República. Antes ser autêntico e dizer ao presidente o que a sociedade organizada pensa dos problemas, do que transigir e colocar panos quentes sobre a realidade nacional. Ocupando o espaço da representação dos advogados brasileiros, Rubens Approbato Machado cumpriu o dever cívico de denunciar a usurpação das funções do Legislativo pelo Poder Executivo, fazendo, ainda, uma leitura abrangente dos problemas brasileiros. Se ganhou críticas de uns, que o consideraram impertinente, fincou a sua coragem cívica no espaço de admiração de milhares de brasileiros, que, como o ícone da magistratura e da advocacia, Evandro Lins e Silva, o identificaram como o timoneiro, à altura dos melhores momentos da entidade.

Quem leu açodamento, no gesto do presidente da OAB nacional, leu errado. Rubens é uma pessoa sensata. Sabe medir a temperatura dos ambientes e o tempero das pessoas. Mas a cordialidade de seu perfil não quer dizer que se cale diante de erros e expresse conceitos apenas para agradar ao interlocutor. Rubens tem sempre na ponta da língua o elogio que deve ser feito e a crítica merecida. A sinceridade é o eixo de seu caráter.

O lado do administrador aparece na organização das equipes, no controle rígido das ações planejadas, nas múltiplas atividades, entre elas, palestras por todo o país, reuniões técnicas, seminários com os presidentes das Seccionais e contatos rotineiros com as mais altas autoridades da República. Approbato tem ainda um tempinho para se dedicar ao escritório, nos finais e inícios de semana, em São Paulo, pois é a alma de advogado que ainda lhe dá a leveza do ser.

Como o sábio Zaratustra, que proclamava "novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga; como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas", Rubens Approbato Machado, da sabedoria de seus 68 anos, é um criador, um abridor de caminhos. Ex-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo, ex-juiz titular do TRE de São Paulo na classe de jurista, ex-conselheiro, diretor e presidente da OAB SP, atual presidente do Conselho Federal da Ordem, é um advogado que cultiva a humanidade. Um homem plural.

Jornal do Advogado - Estamos diante da eleição mais importante dos tempos contemporâneos. Como o senhor avalia este momento peculiar? Rubens Approbato Machado - Trata-se de um pleito com características diferentes. Em face da globalização, sentimos uma interferência de elementos estranhos à nacionalidade brasileira. Isso pode resultar em anomalias. Não podemos permitir que interesses externos interfiram na vontade do eleitor e na soberania nacional. Nosso dever é alertar o eleitor, para evitar que o voto seja influenciado por fatores exógenos.

O senhor está se referindo aos capitais especulativos, que querem tirar proveito do chamado risco Brasil?

  • Não somos contrários ao ingresso de capitais voltados para os investimentos, ainda que possam ter interesses especulativos. As eleições nacionais ganham projeção no cenário internacional, onde os interesses externos se manifestam. No que toca ao exercício da cidadania, não podemos eleger um candidato pelo simples fato de que interessa ao sistema econômico internacional. Isso seria trair o ideário de nossa soberania. Temos de ouvir dos candidatos propostas concretas para escolhermos bem. Não devemos nos intimidar.